quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Mercado do botão é destaque na PUCRJ

Excelente trabalho realizado pelos alunos Diogo Puhl e Gerson Raugust, da PUCRJ, no blog eusoufamecos. Espero que gostem, tanto quanto eu.

Futebol de botão tem mercado tão competitivo quanto o de jogadores profissionais

Não há janelas de transferência nem multas rescisórias, o que facilita a ação e o assédio dos cartolas aos principais craques das equipes. Reforço recém-adquirido não precisa esperar o nome aparecer em boletins informativos diários da Confederação Brasileira de Futebol para atuar. Além dos possíveis lucros com marketing, o valor de mercado também é baseado no desempenho de cada “atleta” em “campo”. Ou, melhor, o desempenho de cada botão na mesa.
Futebol de mesa, ou futebol de botão, é um jogo que simula partidas de futebol. Cada competidor controla 10 botões e um goleiro. Geralmente é realizado em mesas de madeira que representam campos de futebol. O objetivo, independentemente das regras combinadas previamente entre os jogadores, é marcar mais gols do que o adversário.
O passatempo já foi muito comum entre crianças. Mas essas crianças cresceram. Algumas delas continuam praticando e até investindo no jogo. A brincadeira que pretendia imitar os movimentos dos futebolistas também se assemelha muito com a prática de cartolas e empresários do verdadeiro mundo da bola.
Sr. Domênico vende botões por até R$ 50 no Bazar Mimo. Foto Gerson Raugust
Sr. Domênico vende botões por até R$ 50 no Bazar Mimo.
No Bazar Mimo, loja especializada em futebol de mesa situada no centro de Porto Alegre, é possível adquirir um time completo a partir de R$ 20. Mas o custo de um único botão pode chegar aos R$ 50. O dono do local, Domênico Bernardino Romano, 64 anos, mais conhecido como “Seu Mimo”, afirma que o principal fator para tal discrepância de preços está no material da peça. De acordo com Mimo, o botão de acrílico é mais comum e, portanto, mais barato. Os mais caros são os de galalite, um tipo de material nobre importado da Europa.
Além da matéria prima, outros fatores influenciam nos valores dos botões. Há botões industrializados e artesanais. O botonista que optar pelo trabalho manual tem a oportunidade de personalizar seu time, tanto no que se refere ao visual das peças quanto às características de jogabilidade – quantidade de camadas, diâmetro, caimento das bordas.
— Na minha loja os preços são tabelados, mas a pessoa pode encomendar botões diferentes se quiser. Pode escolher outras cores, pode colocar o emblema dentro do botão, pode definir quais as medidas da peça. Vai do gosto do freguês, mas também vai encarecendo — explica o comerciante.

O mercado dos botões

Muitas são as competições ao longo do ano. Os torneios costumam se basear nas tabelas e nos times participantes de eventos reais do futebol profissional nacional e internacional. A Libertadores da América, por exemplo, segue sendo disputada semana a semana nas mesas do Bazar Mimo. São competições como essas que costumam aquecer o mercado dos botões.
Botonistas levam seus times para os confrontos em estojos de madeira personalizados. Dentro deles, repartimentos revestidos de veludo transformam o transporte confortável para os protagonistas dos embates. Esses estojos foram convenientemente apelidados de ônibus.
Como são permitidas substituições, um grupo qualificado é essencial, afinal nunca se sabe quando o reserva, aquele que entra no finalzinho do jogo, poderá se mostrar predestinado a mudar o resultado da partida.
O metalúrgico Alexandre Seixas dos Santos, 28 anos, está prestes a estrear no Campeonato Brasileiro da família dele. O futebol de mesa costuma reunir tios, irmãos e primos em volta da mesa nos finais de semana.
Santos está reforçando o grupo, mas não costuma investir muito nos seus times. Sua equipe principal, o Milan, vale cerca de R$ 450. Mas ele se orgulha de possuir um artilheiro altamente valorizado no mercado familiar. O botão foi comprado de um tio por R$ 60. Hoje, depois das boas atuações nas últimas temporadas, o passe do centroavante de acrílico valorizou muito. A última oferta ao goleador girava em torno de 15 botões mais certa quantia em dinheiro, mas foi recusada.
— Não vendo, esse aí eu não vendo — garante o botonista.
Os irmãos Leandro Majewski, 34 anos e Bruno Ribeiro, 26, jogam futebol de mesa desde criança, mas começaram a levar o hobby a sério mais recentemente. Seus times de acrílico foram adquiridos por um preço considerado baixo no mercado, entre R$ 10 e R$ 20. Aos poucos, os botões se valorizaram e hoje uma só peça chega a valer R$ 40.
— Quando um botão se destaca em algum campeonato, ele fica mais caro. Mas nem precisa ser uma competição mais séria. Às vezes numa “Copa Lasanha” ou “Taça Churrasco”, ou até mesmo em amistosos, tu já consegue valorizar teu time — conta Majewski.

Supervalorização das estrelas

O nome dele é Ricardo, mas prefere ser chamado de Chico. Aos 30 anos, e jogando desde 1996, disse já ter investido mais no jogo tempos atrás. Atualmente, seu grupo principal, com botões de galalite, não é considerado dos mais caros. “Hoje meu time não vale muito, acredito que não passa de R$ 2 mil”, diz.
Chico conhece muita gente que investe forte nesta brincadeira. Já viu quem desembolsasse mais de mil reais por um único botão. A beleza e a raridade das peças contribuem para a valorização no mercado tanto quanto os resultados obtidos em campo. Mas há outro fator que influencia muito para a realização de boas transações: o marketing.
— Uma estratégia dos caras para fazer o botão pegar preço é botar nome nele. Depois é só colocar para jogar e tentar chamar a atenção. Tem botoneiro que passa o jogo inteiro gritando o nome do botão, assim fica mais fácil de vender por um bom preço. – explica Chico.
Embora haja certa mística em torno de botões diferenciados, é consenso entre a maioria dos competidores que o que realmente faz diferença é a habilidade do botonista, a única peça realmente ativa nas equipes.

Algodão é matador

Certa feita, em uma das muitas tardes que passou ao pé de mesas de botão, Chico presenciou uma cena engraçada. Dois botonistas disputavam uma partida. Volta e meia, entre um pedido de “a gol” e outro, um deles gritava: “Algodão!”.
Algodão era o atacante goleador do time. Suas proezas seguiam sendo divulgadas em alto e bom som. “Algodão! Gol do Algodão!”
Embora fortemente exaltadas, todos pareciam alheios às façanhas de Algodão. Todos, menos um garoto que acompanhava o jogo de perto.
Dali a pouco, outro gol e mais um grito: “Al-go-dão!”, com forte ênfase no “ão”.
— Ei, este dái não é o Algodão. — disse o garoto, que apontava o indicador em direção ao verdadeiro Algodão, que sequer participara da jogada.
Vendo sua estratégia de marketing ameaçada, o competidor olhou feio para o menino e, resmungando em tom de desaprovação, ordenou: “Fica quieto, guri! Fica quieto!”
Texto: Diogo Puhl (7° semestre)
Fotos: Gerson Raugust (7° semestre)

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